terça-feira, 30 de dezembro de 2008

des-ESPERO.

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Você já não me quer mais. Disse assim, baixo e confuso, não pra quem quisesse ouvir, mas eu escutei bem.

E caminho, caminho, a estrada é longa, sabe, mil esquinas temos por aí, sabe que gosto delas. São o encontro. O encontro de alguém. Quem sabe o nosso - somos alguém?
É que é tão, mas tão triste continuar caminhando sem acreditar. E não conseguir parar, mesmo que tente, ou tente tentar, ou finja tudo isso encontrando uma maneira de nem tentar mais. Ter medo de perder o que não se encontra ou morrer por esquecer o que está morto. Falar tão errado, sabe, tão feio, fingido. Tentar fazer com que tu te apaixones pelo que não sou, porque não funciona mais ser quem eu sou. E invento formas de tu seres outro também, te encontrando onde não existes, te suplicando em corpos que não são o teu.
Sabes que procurei tanto, incansável e crente - entre horas eternas - ou tu, ou eles que fossem tu, e descobri mil amores que não amei, e que também não consigo. Porque vejo tudo. E tudo existe para que eu veja. Porque eu senti, antes que pudesse recuar, negar, expulsar. E agora é tarde, amor, me atrevo a te chamar assim, me desculpe. Porque enxergo só a alma. E a tua me chama, como nossos olhares antigos, pedras sagradas, que nunca esqueceram de me gritar.
Fica em silêncio no meu silêncio e te tira de mim. Ou me agarra com tua força bruta doida de êxtase incontrolado. Eu não agüento não saber se te amo ou me amo demais. Me desintegro pelos cantos em que tu pisaste, procurando um resgate sem nenhum reforço. Estou despedaçando. E sinto a tua falta em todos os lugares em que não estou. Porque só queria estar em ti.
Sinto, sinto quando paro entre tantos movimentos que tentam me fazer não sentir. Mas eu respiro, bebo, mato a minha fome dessa falta, deito nela como quem deita na grama verde-fria e estranhamente confortável. Eu sinto a tua falta porque a lembrança existe, e lidar com o passado só é fácil-bom quando ela não está mais lá.
Não me diz que você quer que eu supere um entre fins tão bonito assim. Não me diz que não vê o tanto de lindo que é meu rosto inchado procurando o teu rosto pra ficar colado como super bonder sem segunda opção.
Ah, não me deixa apodrecendo pela madrugada que se arrasta sobre mim. Invento personagens que nunca serei. Hobby desesperado, viro princesa dama atriz pra passar o tempo. Sou mil por noite - um minuto no relógio - mas sou sempre metades.
Minha sujeira foge da minha paixão pra que contigo seja pura, nua, crua. Me desculpe por ser humana, imperfeita pros teus desejos, exigências, expectativas. Me apresento novamente como deusa impecável. Passa mais um minuto.
E você já me disse o quanto eu estrago tudo o que não podemos ser tentando assim te convencer de que nós podemos. Mas o meu descontrole é imune às leis, tabus, cartilhas. Não tenta me explicar o porquê de tanto não, persuasão burra me chamando de imatura porque não mando mais em mim. Se eu pudesse nunca mais mandaria flores, olharia pra cima e faria pedidos, ou relembraria fotos fatos e tuas feições de homem criança, eu nunca mais pensaria que tanto foi.
Eu penso, penso porque sinto, porque sinto tão forte que nem com esse monte de água fria que tu despeja na minha cama eu consigo te tirar de cima dela nos meus sonhos. Pensar não adianta. Eu não sei ver o que não existe.
Quem sente é burro, ‘Quem não ama fica rico’. Eu sei, eu sei, mas tu não entendes que eu não consigo? Não posso, não quero, viro perseguidora boazinha, que só encontra pra encontrar. Final feliz.
Já deixei de saber. Tu não entendes que tu é a salvação perdida de todo o meu ócio de agonia, ela em casa, à vontade sentada tomando o teu lugar?
Odeio esse vazio melado que fica me colando em cada batida de sol. Mas é tão pior poder ver que a culpa não é tua. Não quero enxergar. Rezo pra tua alma, suplico ao meu controle, preciso de um culpado. Odiando tudo é fácil. Quero respostas, saída. Um dia lindo, a calmaria distante, morte da saudade que esmaga minha cabeça tentando gritar o quanto eu não posso descobrir.
Estou condenada. A uma verdade que não existe, a uma resposta que não me deram, a um destino que escolhi. Uma avenida bifurcada atropelando sinais vermelhos. Explosões. É só dar a ré, não vê? É tão mais fácil que tu voltes. Sei que sofrer é importante, e dizem que viver é mais, então, deus, é tão mais fácil que tu voltes.
O presente não existe, o passado a sete palmos, temos todo um futuro. Temos sim. Acredita nas minhas palavras pobres, de quem força fonemas bonitos até a última gota. Existe algo aqui. Existe um pedaço de ti, querido, que nunca morre com meus outros pedaços. Tu nunca estiveste tão vivo.
Suspirando entre desgastes, me agarro ao que restou, de mim louca perdida, de ti mocinho de cinema, de nós na última cena. Nos meus devaneios, delírio seguro, cruel suicídio, no único lugar onde ouço assim, alto e claro, e pra todo mundo ouvir: você ainda me quer. Mesmo que só em mim, dentro de mim, de mim para mim.


'Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente.'

Um comentário:

Unknown disse...

A maior declaração de amor que já li. Nada a declarar.